quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Precisamos mudar e agora é a hora!

Nos últimos dias tenho ouvido com frequência a pergunta: “Mas você acha mesmo que a inclusão de pessoas com deficiência na escola é possível?” e sempre respondo: “Claro que sim, não sei qual é a dúvida, todos devemos compartilhar os mesmos espaços e experiências, devemos formar alunos que construam um futuro diferente”. Confesso que essa pergunta me causa intenso desconforto e a busca por tentar entender a razão de tal resistência me persegue. A frase seguinte muitas vezes é: “Você acredita que temos professores preparados para receber tais crianças ou mesmo pessoas com formação para capacitar professores para trabalharem com alunos com necessidades especiais?”. Sim, temos, acredito que não em número suficiente ainda, mas se todos acreditarem que é possível, é certo que esse número aumentará.

Por algum tempo esse questionamento me perseguiu e a busca pela resposta também, qual é a dificuldade em aceitar que pessoas com características diferentes daquelas que julgamos normais devem ser incluídas? Ontem, acho que comecei a entender, mas estou engatinhando nessa descoberta. Mas ainda assim, acredito que vale a pena compartilhar com vocês e isso aconteceu enquanto conversava com uma querida amiga, uma das pessoas mais especiais que cruzei na vida, a Dra. Waverli Matarazzo Neuberger, bióloga, professora universitária, uma líder por excelência e que realiza um trabalho magnífico com sustentabilidade.

Ontem, ela contava para mim e para o grupo de pessoas que fazem parte da Agência Ambiental que ela coordena sobre o que ela tem aprendido em um curso de pós-graduação que está fazendo com o professor Dr. Humberto Maturana, de quem sou fã. Ela falava, dentre outras coisas, sobre o que carregamos em nossa vida, sobre conceitos ou pré-conceitos que temos amarrados em nossa essência. Quando observamos objetos ou situações, utilizamos conceitos internos já construídos, tendo, portanto, uma visão limitada daquilo que se apresenta.

É fácil constatar isso. Mostre um copo vazio para um grupo de cinco pessoas e peça para que elas o observem por 10 minutos. Passado o tempo, solicite que cada pessoa descreva as sensações que vivenciaram observando esse copo. Possivelmente, você terá cinco respostas diferentes, e cada resposta está ligada a limitada visão do que para ela é possível.

Em quais conceitos e pré-conceitos estamos amarrados? Quais são os paradigmas que devem ser quebrados? Estamos dispostos a isso, queremos realmente aceitar o fato que pessoas com características diferentes podem compartilhar nossa história? Espero que a resposta seja “claro que sim”, e acredito que essa seja mesmo a resposta correta. Nos últimos anos muitas coisas mudaram, inúmeras delas. Quer um exemplo? Há 16 anos, fui para os Estados Unidos, para Disney especificamente. Quando cheguei ao parque, a primeira coisa que observei foi o número de pessoas com deficiência que circulavam pelos parques e toda a estrutura que estava disponível para elas. E o mesmo se repetia nos supermercados, nos parques, nas lojas, restaurantes e nas ruas. Enquanto isso no Brasil as pessoas com deficiência eram mantidas em casa, seja por falta de infraestrutura urbana para recebê-las, seja pela vergonha (tenho até incomodo em escrever isso) que as famílias tinham, evitando assim sair e mostrá-las ao mundo.

Os aparelhos auditivos eram escondidos por grandes mechas de cabelos e era preferível ficar sem entender o que era dito a confessar que possuía dificuldade em ouvir. Hoje, a realidade mudou, as pessoas com deficiência saíram de casa, estão no mercado de trabalho, moram sozinhas, são capazes de ir e vir sem a assistência de outras pessoas e sim, estão incluídas em salas comuns de ensino. Claro que nada é tão simples como descrevi, para que o mercado de trabalho absorvesse as pessoas com deficiência a Lei de Cotas precisou ser criada. Para que a locomoção urbana aconteça, que o acesso a cultura, esporte, lazer e educação seja real foi necessário que seres humanos brigassem por eles junto ao poder público, assim hoje, já temos acesso a audiodescrição em alguns espetáculos teatrais e em sessões de cinema, a Língua Brasileira de Sinais agora deve ser ministrada em cursos superiores de licenciatura. Igrejas, palestras, salas de aula já contam com intérprete de LIBRAS. Cidades como Socorro, interior de São Paulo, conta com uma infraestrutura completa para atender as pessoas com deficiência, e isso inclui hotéis e restaurantes preparados, instrutores de esportes radicais preparados, mobiliário urbano acessível.
Será que questionar se é possível que pessoas com deficiência frequentem salas de aula comum ainda faz sentido? Acho que não...

Esse artigo foi publicado pela Erika Longone no site http://www.vidamaislivre.com.br/

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Entrevista: Carlos Ferraz Batista

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Portadora de Síndrome de Down com Maior Idade do Brasil

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Acessibilidade e Sensibilidade

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O acidente que mudou a minha vida - Parte 1

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Entrevista Mara Gabrilli: "Não desisto de ser otimista"

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Mitos e preconceitos em torno do aluno com deficiência na escola regular e na escola especial

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Mais um caso de discriminação e preconceito na UESB

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Respostas a um questionário de pesquisa acadêmica sobre acessibidade

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Eleição do Cedef: divulgue e participe!

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Homenagem

Aniversário de 100 anos de minha avó Nazaré

O ano de 2010 nos trouxe muitas alegrais, celebramos alguns acontecimentos especiais entre os quais a comemoração de um século de vida da nossa avó Nazaré. Muitos questionam o que ela celebra realmente, já que para algumas pessoas ser velho, está numa condição de ser cuidado é sofrimento. Entendamos que não. Mas antes de qualquer confirmação sobre isso vamos ressaltar temas que se assemelham as condições de vida de nossa vozinha.

Esta foi nossa forma de pensar egoisticamente, durante muito tempo. A sociedade moderna, em partiucular o Brasil é prodigo nessa questão, pois durante muitos anos foi viveiro de jovens viris e moças saltitantes. Velho era coisa rara na nossa sociedade. E existiam os segregados, ou seja, todas aquelas pessoas que vivem a margem e que serviam de estorvo para seus familiares. Uma coisa atipica nesse sentido é a vida de nossa avó Nazaré. Sempre obteve de seus filhos o carinho e cuidado necessario para o cumprimento de sua dignidade.

Alguns filmes retratam situações peculiares sobre a velhice, é muito interessante de vez em quando tirarmos um tempinho para apreciar esses instantes. Um deles é tomates verdes fritos. Puxa! Que lição de vida temos ali através da doce Ninny Threadgoode personagem vivida pela atriz Jessica Tandy, uma debilitada mas gentil senhora de 83 anos, que ama contar histórias. Nossa adorável vozinha fazia muito isso.

Mas para os que não compreedem bem porque acontece experiencias como as de nossa avó Nazaré, volto a ressaltar o legado que ela difundiu ao longo dessa trajetória secular. Nossa homenagem pra ela tem um que de nostalgia, pois trouxemos algumas imagens de sua velha morada, a fazenda larjinha, espaço habitado por nossa avó nazaré logo depois de unir-se em matrimonio com seu inesquecível Luis Machado. Foi ali, naquela morada simples, que o casal construiu sua familia, alimentou seus filhos, Maria de Jesus, Ivonete, Consuelo, Francimeire e Godofredo; acolheu amigos e parentes em completa união com os preceitos da solidariedade, do amor e carinho.

O mestre das palavras Afonso Romanna de santana em sua cronica “o velho olhando o mar” descreve uma cena observada por ele em plena esquina da praia de Copacabana sobre um velho ollhando o mar. Nesse breve instante em que espera o sinal abrir seu olhar se depara no corpo franzino, sentado numa cadeira de rodas olhando o mar. Então, mas que ocasionalmente ele começa sem fazer esforço a imaginar esse velho na juventude. Por isso hoje os convido a fazer esse mesmo exercicio, ou seja começar a remoçar o corpo da senhora Nazaré na imaginação, injetando movimento e desejo nos seus musculos, acelerando nele, de novo, a avareza de viver cada instante.

Por isso quisemos nos reunir novamente para comemorar e recordar a experiencia de vida dessa mulher. E ao fazermos isso fomos preparando nossas almas com antecedencia para o evento. E como o tempo da comemoração foi se aproximando lembramos que comemorar quer dizer “trazer de novo á memória”. Então, fizemos esse mosaico de vidas construidas a partir dessa nobre mulher. Ela conseguiu com simplicidade e dignidade criar seus cinco filhos, que porconseguinte também formaram novas familias, gerando 21 netos, que também construiram novas familias e que lhe deram 18 bisnetos. Alguns questionam comemorar para quê? E lembramos do que disse outro mestre na arte de esculpir palavras através da escrita, “Para que se cumpra o ditado popular que diz “recordar é viver”. Então vamos celebrar juntamente com nossa vozinha Nazaré seus 100 anos de vida, bem vividos, bem sofridos, bem felizes. E como descreve Homero em sua Iliada, através do personagem Ulisses na volta a sua Itaca(cidade) ela talvez em sua memória jamais deve ter saido de sua larjinha querida. Como disse Adelia Prado “aquilo que a memória ama fica eterno”.

Pensamentos soltos

Hoje me deu vontade de escrever. Não sei por quê! Isso ficou encasquetando na minha cabeça por todo esse tempo. Aí, resolvi largar tudo que fazia e me dispus a escrever. Ah! Que delicia! Sempre que me vem esse desejo, fico me perguntando?! Será que estou sabendo me expressar? Será que alguém vai conseguir compreender minhas colocações? Por que sempre que faço isso, vou colocando os pensamentos e sentimentos na escrita. Ou pelo menos me esforçando... (risos). Porém, isso não tem muita importância. Na verdade, acredito que o sentimento sempre chega ao destino. Creio em sincronias, também acredito muito em telepatia..(risos), esses momentos sutis, parece até irreal, mas é totalmente possível e orgânico.

Já comentei por diversas vezes sobre minhas impressões com pessoas que sinto empatia. Uma onda de sonhos, de desejos, de doçura, alegria, desprendimento, paixão, enfim, sabores de vida. Foi aí que descobri que isso tudo comprova que o sistema límbico, responsável por nossas emoções, está hierarquicamente acima de todos os sistemas do organismo. Somos aquilo que lembramos, e o que realmente fica gravado não é a informação do acontecimento em si, mas a emoção que ele gerou. Nossa felicidade, tristeza, angústia e euforia são desencadeadas pelos símbolos que o mundo externo apresenta. Isso já compovei diversas vezes, quando observo a mim e aos outros, uma faceta que me faz aprender a aprender.

Existe uma grande diferença entre o "saber" e o "conhecer". O saber gera a sabedoria que estrutura nosso caráter e nutre as importantes lembranças que ficam. O conhecimento nasce da matéria, da informação, da notícia e da ciência. Você não se lembra do conteúdo da aula do primeiro ano, mas se lembra da postura do professor. Por exemplo: Sempre que me ocorrem lembranças felizes, consigo sentir o cheiro, o sabor, revivendo os momentos daquela lembrança. Como foi o caso da lembrança do meu avó materno na cozinha, consigo sentir até o cheiro do café no bule passado na hora, a imagem do fogo crepitando no fogão a lenha, sentir cheiro de lápis, borrachinhas perfumadas me remetem para o carinho que minha mãe encapava meus cadernos e livros escolares. Quais eram os livros? Não faço a mínima idéia. Sabe o que eu tenho que mais gosto? O sol esquentando a minha pele. E a imagem que essas e outras lembranças significam para minha alma.



Memórias da Infância

Na maioria dos dias acordo feliz! Feliz por está viva, cheia de sonhos, projetos, envolvida em atividades que me dão prazer, por ter permissão de trabalhar, estudar, pesquisar, conviver com a família, amigos, enfim... Assim quase sempre estou envolvida por energias positivas, mas isso não quer dizer que deixe de pensar, lembrar nos que sofrem, dos que vivem em situação de risco, etc. Porém, procuro creditar minhas orações, meu trabalho, minhas ações para melhorar esse quadro e assim vou torcendo pela transformação da sociedade em que vivemos. Portanto, começo em mim essa transformação, para que isso possa refletir nas ações e atitudes dos que convivem comigo. Aproveitando a campanha pela paz no mundo, creio que a paz começa em mim. Ou seja, a transformação de tudo começa em mim. É por isso que meu melhor trabalho é poder no meu dia-a-dia transformar as coisas que podem ser tranformadas. Espero assim, aliás, torço que nosso mundo possa melhorar, principlamente em relação a conduta e atitudes das pessoas. De todo coração.

Uma frase que me recorre agora para comentar aqui foi dita pelo Gabriel Garcia Marques. “Você sempre desperta o melhor que existe em mim”. Adorei essa frase quando li. É isso mesmo. Sempre que penso em exercitar o sentimento de delicadeza em mim ou me vem à memória as conversas com pessoas educadas, gentis ou mesmo as truculentas logo me vêm essa frase e me sinto na obrigação de despertar isso nas pessoas e para as pessoas, assim fico feliz. Na verdade tenho me permitido isso nos últimos tempos, ser uma pessoa feliz. Não me estranhe, (risos). Não que tenha sido infeliz, nada disso! É apenas a constatação que tive nos últimos tempos, decorrentes da persistência que tive em estudar, refletir e viver a vida a partir dos recursos que tenho. Observei que para ser feliz é preciso apenas vivificar o que temos, então tenho milhares de motivos para ser feliz, tenho família, amigos, trabalho, cultura, diversão, amores, mesmo não correspondidos...(risos). Mas tudo bem! Às vezes não se pode ter tudo. É preciso dar tempo ao tempo.

Lendo uma entrevista da Nélida Pinon entendi perfeitamente esse estado de felicidade. A partir do que ela mencionou sobre a infância. “Sabe que tive uma infância que considero muito feliz! Porque, sobretudo fui muito amada, e quando você é amada, você se lança à vida com audácia, você tem referências muito fortes e minha família, meus pais, me estimularam à aventura, fui uma aventureira desde menina, aventureira na imaginação, nos desejos e depois na vida e me adaptaram com carícias, com livros, com oportunidades magníficas.”

Pensei! Que legal! Essa história parece com a minha. Também tive avós amorosos, principalmente os maternos. Deles escutei várias histórias. Ouvi muitos "causos", a memória afetiva registrou momentos como estes: Eu sentada no colo do meu querido avô Luis, pois, tinha o hábito de esperá-lo no alpendre do nosso sítio e adorava vê-lo apear seu cavalo branco ao pé da calçada. É uma lembrança guardada na memória pela vida inteira. Lembro-me sutilmente das conversas alegres que ele travava com minha mãe na cozinha da nossa casa. Do cheiro do café feito na hora e do imenso fogão a lenha. Das caminhadas pelo curral das vacas, do meu pai ordenhando a vaca e nos trazendo um leite morninho e adoçado. Das nossas idas a baixa (onde ficavam as fruteiras), manga, goiaba, ciriguela, pitombas, etc., Eu às vezes ia sozinha para o quintal grande, ou mesmo para a baixa tomar banho de riacho, rsrs. Era uma liberdade incrível. Lá ficava horas, talvez por isso tenha desenvolvido o gosto da solidão, mas da solidão desejada e não da solidão que nasce do repudio. Ficava horas a beira do rio ouvindo o som do riacho, do vento batendo nas folhas, às vezes sentia medo, pois com a cabeça cheia de imaginação pensava em todos os fantasmas possíveis. Vivi uma vida simples, mas cheia de encantos. Subia em arvores, fazia o que queria, me lançava nos rios, que achava que era rio de verdade, hoje adulta vejo que é um riachinho modesto, naquele tempo para mim, que prazeroso era o rio! (Risos) então tudo isso ficou marcado para sempre, ainda digo até hoje que o sítio São Francisco, Larginha, é minha caixa de memórias, assim acho que tive uma infância muito feliz.

Um pouco de minha vida compartilhada. Creio que essa nostalgia ocorreu porque estivemos preparando a comemoração dos cem anos de minha avó e algumas lembranças me levaram de volta para o sítio. Então, todas essas memórias retornaram derrepente. Termino essa historinha com um pensamento do Einstein sobre a imaginação. Ele diz mais ou menos assim: “ Quando examino minha maneira de pensar, chego a conclusão que o dom da imaginação sempre teve muito mais importância para mim que a capacidade de acumular informações; Olho minha vida como se fosse música. [...Acho o vício silencioso muito mais interessante que a virtude ostensiva.]”



Definições segundo Quintana

Não existe uma definição mais sensível e delicada do que essa escrita por Mario Quintana. Por isso cada vez mais venho acordando para a percepção sobre o ensinamento de Mokiti Okada no processo de desenvolvimento da minha espiritualidade, despertando nossa missão na conscientização sobre a particula divina existente em cada um de nós.

De acordo com Mario Quintana “deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono de seu destino.”
“louco” é quem não procura ser feliz com o que possui”.
“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.”
“Surdo” é aquele qu não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
“Diabetico” é quem não consegue ser doce.
“Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miséravel,
Pois: “ Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.


E complementa sua postura de sensiblidade e educação em propor essa visão humana e divina.


“A amizade é um amor que nunca morre.”

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um autoretrato

A deficiencia física moldou muito do que sou hoje. Descobrir-se diferente me levou para um caminho solitário. Apesar de ser uma pessoa dócil, obediente, vivi uma grande parte da minha vida sustentanto sentimentos de rebeldia, revolta com doses altissimas de orgulho e pré-conceitos. Mas isso não foi tão prejucial, essa trajetória me levou para a companhia dos livros. Ler tem sido um dos melhores instrumentos rumo ao autoconhecimento. Por isso meus amigos mais queridos são autores e personagens de livros. Rubem Alves, Clarice Lispector, Sidney Sheldon, Leonardo Boff, entre vários. Portanto, viver de maneira solitária para mim trás sempre um grande prazer. Mas no fundo sentia falta de algo concreto. Meu espirito exigindo mais ação, compromisso, desejos comuns. Minha vida escolar nunca foi interropida, fui alfabetizada, e segui a vida escolar na sequencia, fiz primário, ginasio e segundo grau, faculdade, enfim costruí uma vida escolar sem maiores percalços. Aos completar dezoito anos comecei a trabalhar, como servidora pública municipal passei uma boa parte da minha caminhada exercendo atividades na secretária de uma escola municipal. Fiz amigos, compartilhei aprendizados que levo para minha vida inteira.
Por conta de uma inquietude intelectual sempre acompanhei as notícias relacionadas a politica, a economia, a luta pelos direitos humanos, etc. Imagino que esse legado seja herança do meu avó materno, um homem a quem comecei a admirar através das histórias contadas pelo meu pai, meus tios, e nossos amigos em comum. Como mencionei no inicio do texto, fiquei muito tempo apegada aos anseios de uma cura, ou quem sabe se escondendo da vida. Um termo que achei adequado pra conceituar essa etapa da minha vida pode ser caracterizado por letargia. Sinto como se estivesse dormindo, mas, não dessa forma literal que todos entendem, mas fechada num mundinho particular, cheio de redomas, protegida pelo excesso de zelo da família. Porém, com meu jeito simples e perseverante soube chegar devagar e me fiz enxergar. Às vezes de maneira tosca, outras vezes singela, quase sempre docilmente presente em qualquer espaço. Por ter um caráter dócil acho que não soube ousar no momento exigido, ou quem sabe tenha feito sem consciência exata da situação. Mas, como saber se isso foi defeito ou apenas a forma diferente de intervir? Na verdade não se deve lamentar nada. Tudo é aprendizado. Os erros são nossos melhores conselheiros. Isso já está provado cientificamente por estudiosos renomados. Bem diz Piaget!
Comecei a esboçar esse texto para imprimir alguns sentimentos e pensamentos que pedem um registro. Rs...Todavia, acredito que essa pagina não seja suficiente para recebe-los, pois as idéias ficam atropeladas e a habilidade de escrita e pensamento são muitos distintas e possuem velocidades diferentes. Mas vamos lá... Faz parte do treinamento. Voltando ao assunto sobre o meu despertar, concluo que foi lento e como tudo na vida, ele não ocorreu de maneira linear. Precisei de impulsos, de pesquisa, de aprimoramentos, testes e provas.
Em relação à deficiência física meu aprendizado foi avassalador, pois a medida que o tempo passava as limitações aumentavam. Por isso foram recorrentes os momentos de angústia,  as muitas perguntas que fiz aos médicos, a família e mim mesma; surgiam algumas respostas e muitas outras perguntas ainda não respondidas permanecem em mim, mas consegui assmilar as perdas, as dores com uma consciência maior sobre o papel da adversidade nas nossas vidas. Ao mesmo tempo em que precisei protagonizar esse papel em toda minha trajetória infanto-juvenil, adolescência e pós-adolescência deixaram-me muitas vezes me sentir excluída da maior parte dos eventos da vida social. Contudo isso na verdade foi uma forma absorvida por meu próprio pré-conceito. Escrevo para exorcizar muito desses fantasmas do passado. Escrever me faz bem. Pois, descobri que escrevendo consigo organizar os pensamentos em linha reta e assim tenho conseguido me ouvir melhor.
Quando falei em letargia, foi a maneira que encontrei para construir essa ponte à qual precisei edificar ao constatar minhas perdas e ganhos com a distrofia muscular. Precisei ponderar: ou ficava em casa, reclusa, excluída, invisível, tendo pena de mim mesma e esperando por um milagre, ou voltaria à vida, explorando meus potenciais. Felizmente algo desafiador aconteceu em 2004. A vida é cheia de desafios. Estamos em constantes descobertas, e num desses momentos de desbobertas fui “pressionada” pela família a aceitar um papel ativo na cena publica: candidatar-me a vice-prefeitura da cidade de Uruoca. Entendi que naquele momento precisava levar minha voz e deixar-me ouvir. No redemoinho das emoções isso as vezes é totalmente incompreensivel para nossa razão, porém, após os momentos de reflexão percebe-se que nada é por acaso. Lembro que esse processo me possibilitou um crescimento pessoal e social. Entendi que minha formação escolar, minha trajetória de vida, minha família tinham fornecido um grande alicerce para a formação de uma pessoa forte e guerreira.
Uma coisa que me fazia ficar triste e rejeitar ainda mais minha condição física era encarar a cadeira de rodas. Esse chamado veio para apressar e facilitar esse processo de mudanças. Comecei a aceitar e até me sentia confortável na cadeira, pois, a mobilidade ficou facilitada e podia chegar mais rapido e fazer muitos trajetos. E assim, a cadeira de rodas passou a ser encarada como uma forte aliada e complemento do corpo, me permitindo sair com mobilidade, ir a restaurantes, cinema, igreja, etc e tal. Sendo assim, a percepção que tenho hoje é de que a deficiência tem me dando a chance do autoconhecimento. Tenho uma vida interior muito intensa. Gosto de esmiuçar a dor, a alegria, enfim gosto de gente. E também sou muito visceral. E não consigo encarar um espelho! Ainda me estranho muito. Porque na mente ainda me vejo como aquela garota ativa que corria, subia em arvores, em cercas, se banhava em riachos, açudes e tinha uma total independência. Por isso entendo que muito da beleza está no charme dos movimentos. Mas consegui ganhar muito em expressão facial. Consigo me expressar melhor no sorriso e no olhar que expresso.
Geralmente passo a imagem de uma pessoa que consegue se motivar e que consegue passar isso para as pessoas, e com veracidade. Não uso isso como balela e saio por aí dizendo vamos lá. Vamos em frente que atrás vem gente..rsrs...Mesmo na dificuldade consigo atuar na vida com desenvoltura e isso ocorre de maneira natural. É uma atitude que gera nas pessoas esse sensação, e isso desperta algo positivo nelas. Percebem que existe muita alegria em viver a vida, mesmo estando em uma situação que, de acordo com os parâmetros da maioria era para desejar a morte.
Portanto, concordo com a Mara Gabrilli (vereadora paulistana) precisamos atuar pedagogicamente na sociedade e propor um aprendizado reflexivo sobre o comportamento das pessoas em sociedade. As pessoas precisam enxergar essas pessoas diferentes? Conseguir pensar em formas de incluir pessoas com surdez, cegueira, cadeirantes, anãos. E experimentar o sentimento de fraternidade, civilidade, convivência e coletividade. E assim, tirar da invisibilidade esse segmento de pessoas as quais também me incluo. Para isso me comprometo a atuar com delicadeza nessa causa, até porque acredito muito que sensibilizar e educar continua sendo a forma para desenvolver atitudes inclusivas.